Objetos

    Esses dias estava lendo um post em uma página no tumblr (não me lembro qual era o nome da página), mas o post me fez pensar na minha própria vida. Falava sobre coisas simples que eu presencio e já vivi, mas não me dava conta.
    Depois de ler o texto comecei a pensar na minha própria vida, nas inúmeras vezes que, sem sucesso, tentei iniciar um relacionamento com alguém. Sempre que eu estava conversando com as pessoas acabava esbarrando no preconceito.
    A conversa estava fluindo maravilhosamente quando não tínhamos cor, mas quando o meu rosto negro aparecia na janelinha eu era xingado ou bloqueado. No início eu simplesmente guardei aquilo comigo, fiquei me sentindo um lixo, mas agora eu consigo colocar isso para fora. Lembro que na época fiquei um bom tempo encarando a tela do computador, tentando entender o que tinha acontecido.
    Eu tenho vinte e cinco anos, nunca beijei na boca e nem fiz as outras coisas... Mas não falo isso com vergonha nem nada. Não acho feio a pessoa ser virgem... Não vou me colocar como um puritano também, o que se guarda para o casamento, porque não sou essa pessoa. Só estou esperando... E... Pelo que percebi com o que conheço do mundo vou esperar para sempre.
    Quando se é gay as coisas já são complicadas, tem muito preconceito. Mas quando você é gay, negro e passivo a coisa complica. Complica porque você sofre preconceito até mesmo dos gays. Parece inconcebível que um gay negro seja passivo... Para muitos é inconcebível que um negro seja gay.
    Eu estou cursando a faculdade de história... Nos primeiros anos ouvi bastante sobre como o corpo do negro era visto na época de Colônia do Brasil. Eu adoraria dizer que as coisas mudaram, mas elas continuam do mesmo jeito. O negro ainda é visto como um objeto. É aquele que você usa para a diversão, nunca para casar.
    Ninguém nunca me propôs alguma coisa séria, mas já me mostraram o pênis no banheiro. Esperavam que eu fosse a pessoa que da alguns minutos de prazer, escondido, para que pudessem voltar para a luz com seus/suas amadas.
    É uma coisa que minha mãe sempre diz: Se a pessoa só te quer no escuro ela não é boa pra você.
    Mesmo com todos os meus problemas de auto-estima, eu não estou disposto a ser apenas um objeto para ninguém. Eu sei que eu mereço ser amado, mesmo que as vezes eu diga para mim mesmo que não mereço afeto. Eu quero poder olhar para uma pessoa e saber que ela gosta de mim do mesmo jeito que eu gosto dela. Quero que ela olhe para mim sabendo que não sou apenas um corpo que será usado e dispensado na manhã seguinte.
    Eu não sou um pênis ambulante. Nem sou uma bunda ambulante. Se quiser qualquer um dos dois terá que lidar com a pessoa... Você não deve começar uma conversa perguntando o tamanho do pênis de uma pessoa...
    E o pior nessa coisa toda de o negro ser visto apenas como um corpo é que nem mesmo os negros querem ficar com os negros. Certa vez estava no badoo (parei de usar essas redes sociais porque acabam me fazendo mal. Não preciso lidar com superficialidade das pessoas que se encontram nelas) e estava sem foto. Conversei com um carinha, negro... E quando mandei uma foto minha para ele o que ele disse?
    "Aff, você é negro!"
    Como se fosse o maior pecado do mundo. Não estou dizendo que você é obrigado a ficar com uma pessoa negra, mas... Se você está mais preocupado com a cor da pele da pessoa que pode vir a ficar com você, devo dizer que você não está preparado para encontrar alguém.
    Esperava que ele dissesse que eu era feio. Teria aceitado isso, não sou do tipo que se ilude com essas coisas, mas não foi o que ele disse. Quando o questionei ele pediu desculpas. Disse que tinha agido daquele jeito porque é como as pessoas agem com ele. O que não é um motivo para que você trate mal uma pessoa.
    Eu tenho a Disney na minha cabeça, como sabem. Tenho sonhos de encontrar um grande amor. Aquela coisa bem Disney de troca de olhares, ficar sem ar perto dele... Mas... Vendo o mundo real é fácil ver que isso nunca vai acontecer, não é? Eu não sou bom o bastante, para ninguém, no mundo real. Negro demais para os brancos, negro demais para os negros... O que me resta?

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