Algumas palavras...

    Estou pensando em alguma coisa para escrever aqui faz um tempo, mas não tenho conseguido pensar em nada que valha a pena ser publicado. Queria poder dizer que tenho inúmeras experiências para compartilhar, mas não tenho. Eu ainda sou aquela pessoa que quase não sai de casa. E quando sai é por obrigação. Todos os meus relacionamentos amorosos aconteceram apenas na minha cabeça ou em algumas páginas que se perderam pelos anos. É triste você ter vinte e seis anos e não ter nada para dizer. Pelo menos nada que pareça interessante. Tudo o que eu tenho são problemas que foram cultivados ao longo de vinte e seis anos. Problemas que eu, muitas vezes, nem compreendo. Coisas que vem desde quando eu era pequeno e que somente agora eu consigo ver que eram um grande problema, mas nem mesmo consigo curá-los. Eu achei que era uma pessoa desconstruída. Sempre que ouço os meus parentes falando asneiras eu vou e os corrijo. Mas... Eu não sou essa pessoa desconstruída. Ainda carrego vários preconceitos que eu nem mesmo consigo falar porque morro de vergonha, pois sei que são ridículos. Como todos os preconceitos.
    Eu posso dizer que ainda não consigo gostar de mim. Fui criado para odiar pessoas que são como eu. Hoje eu consigo ver beleza em todo mundo, menos em mim. Sempre que olho para o espelho tento ver coisas positivas, mas só consigo encontrar defeitos. Os lábios grandes demais, a cara larga, os olhos caídos demais, a cabeça grande demais... É bem triste viver desse jeito. E quando você tenta se animar vem uma voz na sua cabeça dizendo coisas ruins. Coisas que você ouviu durante a sua vida, coisas que você pensou durante a vida...
    Devo dizer também que eu já desisti de encontrar alguém para chamar de namorado... Ou até mesmo de ficante. As pessoas dizem que eu sou pessimista, mas a verdade é que eu sou realista. Quando a gente não fala muito a gente observa. E eu vi muito desse mundo para saber que não existe um para para uma pessoa com o meu rosto, com o meu corpo, com a minha personalidade.
    O gay negro geralmente é deixado de lado. Acaba sendo apenas um fetiche para as pessoas. É o que tem o pau grande, que tem a bunda grande, é o fogoso... É a pessoa que você procura quando não quer nada sério. Quando quer apenas algumas horas de diversão. Mas nunca é aquele que você leva pra conhecer sua família. Nunca é o que você segura a mão na rua. Nessas horas somos invisíveis. E como aprendemos, desde pequenos, que o ideal é uma pessoa branca acabamos ficando sozinhos... Porque negros querem brancos, brancos querem brancos... Quem quer o negro para ter algo sério? É claro que tem alguns sortudos que conseguem um relacionamento sério e feliz, mas de tudo que eu vi do mundo eu não me encaixo nisso.

Comentários

  1. Muito triste. Se quiser conversar, aqui estou. Partilho de uma experiência similar.

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